De todas as minúsculas e infinitas gavetas do meu eu,
escolhi a mais acessível para que eu pudesse guardá-la.
Não me é dispendioso abrir aquela gaveta,
nem parece haver gasto de energia
tamanha naturalidade com que faço tal ato.
Parece-me vital fazer isso.. de uma necessidade ímpar ao meu equilíbrio.
Todas as manhãs, antes de dormir e por vezes e vezes ao dia
Eu abro a gaveta.. [isso me faz até questionar minha qualidade integral de ser humano
Esse ato se tornou tão comum, automático, que sinto parte de mim robotizada,
programada, insistindo e persistindo.. dias, semanas, meses.. meses após meses.]
Por fim, a tiro da gaveta.. pego-a com todo o cuidado
Como quem tem a jóia mais preciosa do mundo em mãos, e de fato..
Ela é preciosa, não como a jóia.. vai além,
além como algo que ainda não existe para que se possa comparar.
Com ela em mãos, visto-me dela em frente ao espelho, espelho de corpo inteiro
Me olho, me vejo.. sinto-a em contato com minha pele:
macia, leve, suave.. linda, descomunal.
Se fecho os olhos, é semelhante à uma brisa de primavera me tocando,
gostosa de sentir.. e sentida, causa arrepios à alma, fazendo o coração bater descompassado.
E com ela em mim, não existe uma vez que se possa fazer número
Em que eu me olhe no espelho, e não me sinta bela e completa.
Felicidade, sim: estampa em forma de sorriso na minha face e no meu corpo iluminado por ela.
Imóvel.. aprecio-me. Como quem estivesse diante das sete maravilhas do mundo reunidas em um só lugar.
E nesse espelho da alma, do coração.. existe o reflexo.
Meu? Não. Bom, sim, de alguma forma sim.
Mas não por mim, não. Não é brilho próprio.
Já tentei me ver sem ela em mim, me senti ofuscada.. sem aquelas sensações descritas anteriormente.
Mas sim, o reflexo no espelho é meu, é dela! É ela.. é ela em mim.
Tão em mim, que quando me olho no espelho.
Não vejo mais a mim, eu vejo ela..
tão somente ela, sobre mim,
fazendo de mim, inteiramente dela, por ela.